sábado, 2 de outubro de 2010

VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Violência – uma relação assimétrica (hierárquica) de poder com fim de dominação, exploração e opressão (Azevedo, 1995).
Violência intra-familiar – VIF – determina um padrão de relacionamento abusivo entre pai, mãe e filho, que leva ao desencontro, à estereotipia e à rigidez no desempenho dos papéis familiares.
Violência doméstica (Azevedo, 1995) – Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis, contra crianças e adolescentes que – sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica de um lado uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma negação do direito que a criança e adolescentes têm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.
Adorno, 1993 – Um indivíduo é considerado violento quando ele rompe o pacto social existente. Rompe as regras, senão legítimas, pelo menos consideradas legais e morais numa sociedade, em determinado momento da sua história. A violência é uma ação que envolve a perda da autonomia, de modo que pessoas são privadas de manifestar sua vontade, submetendo-a à vontade e ao desejo de outros. Ela não só se manifesta nas relações entre classes sociais, mas também nas relações interpessoais.
O abusador tanto da criança quanto do adolescente utiliza-se da violência como forma de manifestação das relações de dominação, expressando claramente uma negação da liberdade do outro, da igualdade e da vida.
A VIF contra crianças e adolescentes mais frequentemente revela-se em situações de violência física, sexual, psicológica (negligência/abandono).
1-   Violência física: utilização de força física excessiva e inapropriada.
2-   Negligência/abandono/psicológico/emocional: fracasso dos pais/responsáveis na realização adequada de seus deveres como pais, ou seja, no suprimento das necessidades básicas da criança e do adolescente (Duarte e Arboleda, 1997). Definem-se tanto pela ausência de uma atenção positiva, de uma disponibilidade emocional, de interesse doas pais/responsáveis pela criança/adolescente, como por: - atitude de aterrorizar a criança; comportamentos de isolamento social; - atitudes de corrupção; - posturas de exploração.
3- Violência sexual: contatos entre crianças/adolescentes e um adulto (familiar ou não) nos quais se utiliza a criança/adolescente como objeto gratificante para as necessidades ou desejos sexuais do adulto, causando danos àqueles, em geral interferindo em seu desenvolvimento.

Fenômeno sempre presente na sociedade embora bastante velada. Inclui (Azevedo,
1988) ocorrências intra e extra-familiares, com atos classificados em 3 grupos:
- Não envolvendo contato físico: abuso verbal, telefonemas obscenos, vídeos/filmes
obscenos, voyeurismo. 
- Envolvendo contato físico: atos físico-genitais: que incluem passar a mão, coito (ou tentativa de), manipulação dos genitais, contato oral-genital e uso sexual do ânus; pornografia, prostituição infantil (ou seja, exploração sexual da criança para fins econômicos), e, incesto (enquanto atividade sexual entre ao criança e seus parentes mais próximos, de sangue ou por afinidade). 
- Envolvendo contato físico com violência: estupro, brutalização e assassinato (crianças emasculadas) – no qual estão presentes a força, ameaça e intimidação.


CONSEQUÊNCIAS são variadas e dependem: da idade da pessoa agredida e da que agride;
do tipo de relação entre eles; da personalidade da vítima; da duração e da freqüência da
agressão; do tipo e da gravidade do ato; da reação do ambiente.
     Consequências a curto prazo:
1-   Problemas físicos;
2-   Problemas no desenvolvimento das relações de apego e afeto: - desenvolve reações de evitação e resistência ao apego; problemas de afeto como depressão e diminuição da auto-estima; distúrbios de conduta (agressividade).
3-   Alterações no desenvolvimento cognitivo, na linguagem e no rendimento escolar: - rebaixamento da auto-percepção sobre suas capacidades; má-percepção de si próprio; problemas na compreensão e na aceitação das emoções do outro.
Consequências a longo prazo:
    Sequelas físicas. Pais abusadores mais tarde. Conduta delinquencial e comportamentos suicidas na adolescência. Conduta criminal violenta mais tarde.
Efeitos da Violência sexual (Lopez Sanchez, 1991):
- Efeitos imediatos (2 primeiros anos): 60 a 80% apresentam algum distúrbio ou alteração.
1- Efeitos físicos mais freqüentes: distúrbios do sono – 17 a 20%; mudanças de hábitos alimentares – 5 a 20%; gravidez – 1 a 11%; DSTs
2- Efeitos psicológicos mais habituais: medo – 40 a 80%; hostilidade diante do sexo agressor – 13 a 50%; culpa – 25 a 64%; depressão – 25%; baixa auto-estima – 58%; conduta sexual anormal: masturbação compulsiva, exibicionismo – 27 a 40%; angústia, agressões, condutas anti-sociais, sentimentos de estigmação.
3-   Efeitos sociais mais freqüentes: dificuldades escolares,  discussões familiares frequentes, delinquência, prostituição
- Efeitos a longo prazo: Fobias, pânicos, personalidade anti-social; Depressão com idéias de suicídio, tentativa ou suicídio levado a cabo; Cronificação dos sentimentos de estigmatização; Isolamento; Ansiedade, tensão e dificuldades alimentares; Dificuldades de relacionamento com pessoas do sexo do agressor; Re-edição da violência, re-vitimização; Distúrbios sexuais; Drogadição e alcoolismo
Características do abusador(a):Personalidade anti-social, paranóia, impulsividade, baixa tolerância à frustração, sentimentos de inferioridade ou de insuficiência, infância violenta, estresse, álcool ou drogas.
Existem quatro pré-condições que levam um indivíduo a cometer o abuso sexual infantil: Motivação: é necessário sentir o desejo de manter relações sexuais com uma criança – pedofilia. Superação das barreiras internas: superar as inibições internas que bloqueiam seu desejo de se relacionar sexualmente com crianças (álcool, psicose, senilidade ou fracasso na repressão do incesto na dinâmica familiar).  Superação das barreiras externas: fatores individuais mais importantes que permitem ao adulto superar barreiras externas são a ausência, enfermidade ou distanciamento da mãe, ou ela estar dominada, falta de vigilância, condições de dormitórios comuns entre crianças e pais. Superação da possível resistência de crianças e adolescentes: capacidade que a criança/adolescente têm de evitar ou resistir à violência/abuso sexual – Insegurança emocional; Desconhecimento do tema; Situação de confiança entre abusador e criança (pai biológico); Coerção.

Sylvia Faria Marzano

Referência: VIOLÊNCIAS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES - Ferrari e Vecina

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